O que realmente existia na Biblioteca de Alexandria?

Neste artigo, vamos explorar tudo o que se sabe — e o que se suspeita — sobre essa biblioteca lendária.

Durante séculos, a Biblioteca de Alexandria foi envolta em fascínio, mistério e especulação. Considerada um dos maiores centros de conhecimento da Antiguidade, a sua fama atravessou gerações. Mas o que realmente existia ali dentro? Quantos livros ela guardava? Quem frequentava suas salas? E por que sua destruição ainda gera tanta polêmica e curiosidade?

A origem da Biblioteca de Alexandria

A Biblioteca de Alexandria foi fundada no início do século III a.C., no Egito, durante o reinado do faraó Ptolemeu I Sóter, um dos generais de Alexandre, o Grande. A cidade de Alexandria havia sido recentemente fundada por Alexandre e rapidamente se transformou em um dos principais centros culturais e comerciais do mundo antigo.

O objetivo da biblioteca era ambicioso: reunir todo o conhecimento do mundo conhecido. Para isso, os governantes da dinastia ptolomaica investiram recursos e adotaram medidas estratégicas para adquirir livros e pergaminhos de diversos lugares.

Quantos livros havia na biblioteca?

Estimar a quantidade de obras armazenadas na Biblioteca de Alexandria é um desafio, já que nenhum inventário oficial sobreviveu ao tempo. No entanto, fontes históricas mencionam números que variam entre 40 mil e 700 mil rolos de papiro.

É importante lembrar que na Antiguidade, cada “livro” era um rolo de papiro, e não um livro encadernado como conhecemos hoje. Uma única obra poderia ser dividida em vários rolos, dependendo de seu tamanho. Assim, o número de rolos não necessariamente representa o número de obras únicas.

Que tipo de conhecimento era armazenado ali?

A biblioteca era um verdadeiro repositório da sabedoria antiga. Os rolos de papiro continham textos sobre:

  • Filosofia (grega, egípcia, persa, hindu, etc.)

  • Medicina e anatomia

  • Astronomia e astrologia

  • Matemática

  • História e política

  • Botânica e zoologia

  • Religião e mitologia de diversos povos

  • Literatura épica e poesia

Além de obras gregas, havia traduções de textos do Egito antigo, da Mesopotâmia, da Pérsia, da Índia e até mesmo registros hebraicos. Um dos trabalhos mais notáveis atribuídos à biblioteca é a tradução da Torá para o grego, conhecida como Septuaginta.

Quem usava a Biblioteca de Alexandria?

Ao contrário do que se imagina, a biblioteca não era aberta ao público em geral. Ela funcionava como um centro de pesquisa destinado principalmente a eruditos e estudiosos convidados pela corte de Alexandria. A cidade também abrigava o Museu, uma espécie de academia científica e filosófica, onde esses estudiosos viviam, pesquisavam e escreviam.

Entre os nomes célebres que passaram por lá estão:

  • Eratóstenes: calculou a circunferência da Terra com surpreendente precisão.

  • Hiparco: considerado o pai da trigonometria.

  • Herófilo: pioneiro na dissecação de corpos humanos.

  • Arquimedes: alguns acreditam que tenha tido acesso a materiais da biblioteca.

  • Ptolomeu: astrônomo e geógrafo cujos mapas influenciaram séculos de navegação.

Estratégias ousadas para aumentar o acervo

Os ptolomeus tinham uma obsessão pela expansão do acervo. Quando navios estrangeiros atracavam no porto de Alexandria, seus livros e pergaminhos eram confiscados temporariamente, copiados pelos escribas da biblioteca e depois devolvidos… às vezes com as cópias, enquanto os originais eram mantidos!

Também compravam e trocavam livros com outros reinos e até enviavam emissários a mercados distantes em busca de novas obras. A busca era global — ou pelo menos tão global quanto o mundo conhecido à época.

A destruição: um evento ou vários?

Uma das maiores polêmicas envolvendo a Biblioteca de Alexandria é a sua destruição. Não se sabe ao certo quando, como e por quem a biblioteca foi destruída — e há fortes indícios de que isso aconteceu em múltiplos episódios, ao longo de séculos:

  1. Júlio César (48 a.C.): Durante a guerra civil em Alexandria, César teria incendiado parte do porto. Muitos acreditam que esse fogo se alastrou até os depósitos da biblioteca.

  2. Imperador Aureliano (270 d.C.): Durante uma campanha militar para retomar a cidade, novos danos teriam sido causados.

  3. Patriarca cristão Teófilo (391 d.C.): Com o crescimento do cristianismo, muitos templos pagãos foram destruídos. A Biblioteca-filial localizada no Serapeu, templo dedicado ao deus Serápis, foi provavelmente queimada nessa época.

  4. Califa Omar (642 d.C.): Um relato muçulmano tardio afirma que o califa Omar teria ordenado a destruição de livros considerados “inúteis” ou “contrários ao Alcorão”, embora muitos historiadores questionem a veracidade desse episódio.

A combinação desses eventos pode ter sido responsável pelo fim gradual do acervo.

Quanto conhecimento foi perdido?

É impossível medir exatamente o impacto da perda da Biblioteca de Alexandria. Estima-se que inúmeras obras únicas — que não sobreviveram em nenhuma outra parte do mundo — tenham sido destruídas. O que sabemos sobre muitas civilizações antigas foi reconstruído com base em fragmentos, referências em textos posteriores ou descobertas arqueológicas isoladas.

Imagina-se que ali havia tratados de ciência que poderiam ter acelerado o desenvolvimento tecnológico humano em séculos. Podemos ter perdido avanços matemáticos, teorias médicas, cosmologias alternativas, mapas de regiões desconhecidas e muito mais.

Por que a Biblioteca de Alexandria ainda fascina?

Mesmo tantos séculos depois, a Biblioteca de Alexandria continua sendo um símbolo do potencial do conhecimento humano. Ela representa o esforço de uma civilização para reunir e preservar tudo o que se sabia — e a triste lembrança de como o saber pode ser perdido.

É um lembrete poderoso de que o conhecimento precisa ser protegido, compartilhado e valorizado. Hoje, com o mundo digital e as bibliotecas virtuais, temos novas formas de preservar a sabedoria. Mas o legado de Alexandria nos ensina que nenhuma tecnologia é eterna se não houver compromisso com a sua preservação.


O que podemos aprender com essa história?

A Biblioteca de Alexandria nos ensina que o conhecimento é um bem precioso, mas frágil. Ele precisa ser cultivado, registrado e, acima de tudo, acessível. Ao olharmos para trás e refletirmos sobre o que foi perdido, podemos redobrar nossos esforços para preservar o que temos hoje.

Afinal, cada livro, cada texto, cada descoberta — por mais “pequena” que pareça — pode transformar o futuro da humanidade.

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